sábado, 21 de agosto de 2010

Seminário sobre Predestinação e Eleição Igreja de Nova Vida



O contexto da Soteriologia

As doutrinas da predestinação e eleição fazem parte do capítulo conhecido como soteriologia, ou doutrina da salvação, na teologia sistemática. Procuram compreender as razões que levaram Deus a salvar os pecadores. Na verdade são tentativas de explicar questões de caráter último a partir da finitude da experiência humana. Como entender, por exemplo, que a pregação do evangelho provoque, ao mesmo tempo, reações de aceitação e de rejeição da parte dos ouvintes? Há algum fator determinante que explique essas diferentes respostas? A salvação deve ser entendida a partir de um modelo determinista inflexível e autoritário? Qual o papel do ser humano na salvação? Como conciliar a soberania de Deus com o livre arbítrio do homem? Deus outorga uma salvação ampla ou restrita? São algumas das questões centrais relacionadas à doutrina da predestinação e da eleição que pretendemos abordar neste estudo. Deixemos claro que a salvação, em última análise, é obra total e exclusivamente de Deus. Nas Escrituras é sempre Deus quem toma a iniciativa de procurar o ser humano a fim de salvá-lo. É importante frisarmos essa declaração para que o ser humano assuma conscientemente o seu lugar de criatura e possa confiar inteiramente na graça de Deus.            

Queremos entender a idéia bíblica da predestinação e da eleição antes de verificarmos as interpretações históricas e os problemas vinculados a essas doutrinas.

ELEIÇÃO - A escolha por Deus daqueles que crêem em Cristo é uma doutrina importante (ver Rm 8.29-33; 9.6-26; 11.5, 7, 28; Cl 3.12; 1Ts 1.4; 2Ts 2.13; Tt 1.1). A eleição (gr. eklegoe) refere-se à escolha feita por Deus, em Cristo, de um povo para si mesmo, a fim de que sejam santos e inculpáveis diante dele (cf. 2Ts 2.13). A eleição “olha” para o aspecto passado da nossa salvação (1Pe 2.1; Ef 1.4). Essa eleição é uma expressão do amor de Deus, que recebe como seus todos os que recebem seu Filho Jesus (Jo 1.12).


PREDESTINAÇÃO – (gr. proorizo) significa "decidir de antemão" e se aplica aos propósitos de Deus inclusos na eleição. A eleição é a escolha feita por Deus, "em Cristo", de um povo para si mesmo (a igreja verdadeira). A predestinação abrange o que acontecerá ao povo de Deus (todos os crentes genuínos em Cristo). A predestinação “olha” para o aspecto futuro de nossa salvação (Rm 9.29; Ef 1.5,11). Segundo as Escrituras, ela é o nosso pré-destino. Em (1Tm 2.4) está escrito: “Deus quer que todos os homens se salvem”. Nisto está incluído o mundo inteiro que queira. De fato, todos os que verdadeiramente crêem, se salvam; somos testemunhas disso. O Senhor predestinou a salvação todo aquele que aceitar a Jesus. A própria aceitação já é um dom de Deus, para que ninguém se glorie julgando que assim contribuiu para a sua salvação. A predestinação que a Bíblia ensina não é a de uns para a vida eterna e a de outros para a perdição eterna. A predestinação é para os que quiserem ser salvos, conforme lemos em (2Ts 2.13; 2Tm 2.10). “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”; “Escolhidos para que também alcancem a salvação”. A predestinação, assim como a eleição, refere-se ao corpo coletivo de Cristo (isto é, a verdadeira igreja), e abrange indivíduos somente quando inclusos neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo (Ef 1.5,7,13; At 2.38-41).

Eleição é o ato divino pelo qual Deus escolhe ou elege um povo para si, para salvá-lo (2Ts 2.13). Predestinação é o ato de Deus determinar o futuro desse povo. No N.T, esse povo é a igreja, o corpo de Cristo, o povo salvo (Ef 1.22-23)

Sua importância para a teologia calvinista

A doutrina da eleição e predestinação ocupa um lugar central nas Institutas de João Calvino. Ele afirmou que certas pessoas são eleitas totalmente por Deus independentemente de qualquer relação com a fé e com as obras. Esse tipo de abordagem foi defendida de modo geral pelos teólogos Calvinistas até que foi questionada pela escola de Jacobus Arminius, para quem a eleição era a escolha que Deus faz daqueles que crêem e perseveram pela graça na fé e nas obras.




A doutrina da providência

As doutrinas da predestinação e da eleição devem ser entendidas no contexto mais amplo da doutrina da providência de Deus. Falamos de providência de Deus para designar o controle e direção que Deus tem do universo para a finalidade que Ele escolheu. Fé na providência afirma o propósito de Deus em toda a Criação, seu cuidado e preocupação especial para com toda a humanidade.  A palavra significa “ver à frente” implicando que Deus está trabalhando no presente com um olhar voltado para o resultado futuro do Seu propósito. A questão da providência é um tema central tanto na teologia bíblica como na teologia filosófica. Tendo em vista a importância desta doutrina no entorno geral da discussão da predestinação e da eleição, separamos a aula 13 para uma abordagem mais aprofundada da matéria.

A doutrina da Presciência de Deus

A presciência de Deus é o seu pré-conhecimento de todas as coisas (1Pe 1.2; At 2.23; Rm 8.29). Ela é parte do seu atributo de onisciência. Ele pré-conhece todas as coisas sobre o homem, mas não as evita, por ser o homem livre e responsável por seus atos. No caso do pecado de Adão, o Senhor sabia disso na sua presciência, porém não o evitou, por ter Adão o livre-arbítrio. Se formos observar a biografia de Judas, do rei Saul, dentre outros, veremos que eles escolheram o seu próprio caminho, haja vista a presciência de Deus não forçar a livre-vontade do homem. O Todo-Poderoso, como onisciente, conquanto conheça de antemão os que o rejeitarão, não interfere, por ter ele criado o homem dotado de livre-arbítrio. Deus não viola esse princípio. Sim, o Senhor não criou o homem como um autômato, um robô, mas como ser moral, responsável por seus atos, com a faculdade de decisão e livre escolha – se bem que essas faculdades estão grandemente prejudicadas pelo efeito deletério do pecado, principalmente os de incredulidade e rebeldia.






Toda iniciativa é de Deus

A salvação vem de Deus (Sl 3.8). Toda a iniciativa da salvação vem do Criador. Não foi o homem quem escolheu salvar-se, mas Deus quem quis oferecer ao homem a comunhão com Ele mesmo e a vida eterna, pois o homem estava morto espiritualmente e não podia dar vida a si mesmo (Ef 2.1-6). Cristo diz aos discípulos: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” (Jo 15.16). O pecador sem a graça de Deus, não entende nem aceita as coisas de Deus (1 Co 2.14; 2 Co 4.4; Ef 4.18). A Bíblia afirma que todos pecaram (Rm 3.23) e que nossas justiças não têm valor redentivo diante de Deus (Is 64.6; Ef 2.8-10).

Deus tomou a iniciativa quanto:

a) O propósito de salvar – determinado antes da fundação do mundo (Ef 1.4; Rm 8.28; 2 Ts 2.13; 2 Tm 1.9). Deus, em Sua sabedoria, sabia que o homem pecaria, então juntamente com o propósito de criar, também resolveu salvar.

b) O meio de salvação – a morte de Cristo (Ef 1.4-5). Todos os atos envolvidos (encarnação, crucificação, ressurreição, ascensão, retorno) foram planejados (Ap 13.8; At 2.23-24).

c) Os indivíduos salvos – Deus elegeu todos os que hão de ser salvos (Ef 1.4-5; Rm 8.28-30; 1 Pe 1.2; At 13.48; 2 Ts 2.13,14). Esta eleição foi feita segundo a presciência de Deus (Rm 8.29; Ef 1.4; 1 Pe 1.2). Não dependente da presciência, como um passo posterior, mas intrinsecamente ligada a ela.

Em seu perfeito conhecimento, Deus sabe todas as coisas antes que elas aconteçam (Rm 4.17). Henry Thiessen fala de uma eleição na base da fé prevista por Deus, mas não uma fé comum, senão uma fé produzida pela graça divina: “como a humanidade está irremediavelmente morta em delitos e pecados e nada pode fazer para obter a salvação, Deus graciosamente restaura a todos os homens a capacidade suficiente para fazer a escolha na questão da submissão a ele. Esta é a graça salvadora de Deus que apareceu a todos os homens (Tt 2.11).
Em Sua presciência, Ele tem consciência do que cada um vai fazer com esta capacidade restaurada, e, então, elege os homens para a salvação em harmonia com Seu conhecimento da escolha que fazem a respeito dEle”. (Jo 6.44,47).

É necessário fazer uma distinção entre a presciência e predestinação. Deus pode prever algo sem determinar que isso aconteça. Por exemplo, Deus previu a entrada do pecado no mundo, mas não determinou que isto acontecesse.

A responsabilidade humana

Deus deu às suas criaturas o livre-arbítrio (liberdade de ação), não total livre-arbítrio. Todos reconhecem a liberdade como um bem (ninguém faz passeatas contra ela!). Contudo, esta liberdade de escolha moral acarreta tanto a escolha de fazer o bem quanto o mal. (alguns textos no slide)

É bom ser livre, mas a liberdade torna o mau possível. Deus nos deu a liberdade, mas somos responsáveis pelos nossos atos livres. Alguns teólogos afirmam que o homem é livre apenas para fazer o que deseja, e como só deseja pecar, não é livre para fazer o bem, pois somente Deus dá o desejo para o bem. No entanto, seguindo este raciocínio, quem deu ao diabo e a Adão o desejo de pecar, visto que Deus os criou bons? Para não acusar Deus de haver criado o mal – algo impensável (Tg 1.13) -, temos que aceitar que o pecado é fruto da vontade das criaturas e, portanto o homem é livre para fazer algo além do que deseja (Rm 7.15,19; Gl 5.17), embora, por causa da queda, necessita da graça de Deus para fazer o bem.

A Bíblia mostra que o homem fica livre e responsável por suas decisões (Lc 9.23; Ap 22.17). Somos responsáveis pelo que fazemos (Gl 6.7). Se os seres que Deus criou não puderem ser responsabilizados por suas escolhas certas, também não poderão ser responsabilizados pelas escolhas erradas. Assim, seríamos obrigados a aceitar a idéia de que o homem não foi responsável pela queda, como o diabo não foi responsável pelos seus erros, o que foge completamente à verdade. O homem tem a capacidade de fazer escolhas, embora precise da ação do Espírito Santo para reconhecer seu estado pecaminoso e aceitar a Cristo como seu Salvador.

No plano geral de Deus, a obra de Cristo visa a todos (Gn 12.2; Mt 28.19,20; 1 Jo 2.1,2; Ef 3.6; 2 Pe 3.9, 1 Tm 2.3,4, Tt 2.11, Ez 33.11). Cristo morreu para oferecer a salvação a todo homem (Hb 2.9; At 17.30). Dentro desse plano vem a eleição, que inclui a liberdade e responsabilidade do indivíduo (Rm 2.12; Mt 11.20-24).

Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.4-11, At 10.34). Desta maneira, não escolheria uns para salvação e outros para perdição, sem dar-lhes oportunidade de tomar uma decisão. O que leva o homem à perdição não é a falta de eleição, mas o pecado e a falha em não aceitar Jesus (Mc 16.16; Jo 3.18). O pecador não é salvo por crer, ou seja, pelo seu ato, mas pela graça de Deus, por meio da fé (Ef 2.8,9). Os crentes foram vistos antecipadamente em Cristo quando Deus os escolheu. Eles estavam em Cristo porque aceitaram pela fé a oferta da salvação que Ele fez.

Soberania divina x Livre-arbítrio humano

A soberania divina e o livre-arbítrio humano não são conceitos mutuamente excludentes (conforme o arminianismo ensina). O direito de escolha do homem não anula o controle de Deus, pelo contrário, exalta-o. É preciso ser muito mais poderoso para manter o controle num universo de múltiplas escolhas do que num universo de “cartas marcadas”, onde tudo segue uma ordem previamente estabelecida, sem possibilidade de mudanças. Podemos ver esta ocorrência conjunta, do livre-arbítrio e da soberania, na morte de Cristo:

a) Deus determinou que Cristo morreria antes da fundação do mundo (Ap 13.8)

b) Entretanto, Cristo afirma que se entregou (Jo 10.17,18)

c) Deus sabe tudo (Is 46.10, Sl 147.5)

d) Deus sabia que Jesus morreria (Ap 13.8, Jo 2.23)

e) Apesar disto, Jesus escolheu morrer.

A salvação é pela fé, não pelas obras (Ef 2.8,9). E Cristo morreu para garantir a salvação a todo aquele que nele crer (Lc 13.3, Jo 3.16-18, At 16.31; 17.30). Se não fosse assim, não faria sentido a pregação do evangelho, como Cristo mandou fazer (Mc 16.15). O homem tem o direito de escolha, dado por Deus. Assim, a criatura pode resistir ao chamado do Criador (Mt 23.37, At 7.51, Jo 1,11,12). Portanto, a salvação também tem uma pequena participação humana: aceitar a oferta de Deus – a Salvação em Cristo. O homem tem poder sobre sua própria vontade (1 Co 7.37). Assim, o Espírito Santo conduz a Cristo somente aqueles que o permitem.

No tocante à eleição e predestinação, podemos aplicar a analogia de um grande navio viajando para o céu. Deus escolhe o navio (a igreja) para ser sua própria nau. Cristo é o Capitão e o Piloto desse navio. Todos os que desejam estar nesse navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no navio, acompanhando seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone o navio e o seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. A predestinação concerne ao destino do navio e ao que Deus preparou para quem nele permanece. Deus convida todos a entrar a bordo do navio eleito mediante Jesus Cristo.

Existem duas correntes doutrinárias no tocante a doutrina da eleição e a predestinação: O calvinismo e o arminianismo.

Quadro comparativo: calvinismo x arminianismo – comentário.

Uma valoriza por demais a soberania de Deus e a outra á livre escolha humana. Os extremos doutrinários dessas correntes são extremamente prejudiciais a fé cristã. Devemos primar pelo equilíbrio e um exame minucioso e sem preconceito da Bíblia para não cairmos no erro dos extremos.

FINAL - Importância desta doutrina

Se toda a iniciativa da salvação é de Deus, então nenhum crente pode gloriar-se de ser salvo, mas temer Aquele que o salvou (Rm 11.20,21). Se a salvação é oferecida a todos, desde que creiam e aceitem a Cristo, devemos pregar a Palavra de salvação a todos, a fim de salvar a muitos (1 Co 9.22). Somos como os leprosos que descobriram uma abundante benção que pode salvar a todos e não podemos ficar calados (2 Rs 7).




Fonte: Pastor Flávio Muniz e  Professores da escola Bíblica INVO.

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